Há alguns anos atrás, no dia 08/04/17, durante uma cerimônia com o chá do Santo Daime, eu comecei a ver espíritos de crianças indígenas. Elas iam se aproximando e sentando ao meu redor, de repente, eu estava cercada de crianças. Elas estavam pintadas, algumas estavam ensanguentadas, mas todas chorando, com muito medo, estavam aterrorizadas.
Meu coração se encheu de dor, lágrimas escorriam de meus olhos, e o desespero tomou conta de meu ser. O que estava acontecendo? De onde surgiram tantas crianças mortas? E por que elas estavam pedindo minha ajuda?
Comecei a orar por suas almas, para que Deus fornecesse conforto a elas. Durante a oração eu fui transportada para o meio da floresta, dezenas de índios correndo desesperadamente. Homens com metralhadoras atirando sem pudor, não se importando se era criança, idoso ou mulher que eles acertassem, queriam devastar aquela aldeia a qualquer custo.
Novamente fui transportada, dessa vez sentada em um tronco, rodeada de crianças algumas vivas, outras em espírito. Eu estava no corpo de um xamã, um homem idoso, que fazia orações e jogava bênçãos para acalmar o coração daqueles o cercavam.
Suas mãos em forma de prece, subia e descia em movimentos que captavam energia de seu coração e irradiava para aqueles que estavam ali.
Este xamã tentava acalmá-los com suas rezas e bênçãos, mas ao mesmo tempo sentindo um grande desespero, uma enorme agonia ao ver sua tribo sendo devastada.
Não consigo expressar tamanha dor, tamanho desespero, que senti vindo dessas pessoas que vivem na floresta e assistem cada dia mais parte de sua Mãe Terra ser destruída, suas famílias assassinadas pela ganância de homens que se dizem evoluídos.
A dor era tanta que eu chorei desesperadamente, rezando para que Deus abençoasse esses seres, encaminhassem seus desencarnados e trouxesse compaixão ao coração da humanidade e dessas pessoas que desmatam sem remorso.
Minha mente se conectou a do xamã, eu era ele e ele consciente que eu estava ali. E então ele pediu para eu passar uma mensagem:
“Eu lhes suplico: parem de comer carne. A Mãe Natureza suplica: não desmatem mais. Por favor, pensem em suas atitudes! Não alimentem seus egos e egoísmo, pensem no todo e em tudo. O mundo não suporta mais tanto egoísmo, tanta ganância. Nós pedimos, pensem naquilo que fazem e em como repercutem suas ações. A carne é a maior causa do desmatamento. Nossa Mãe não aguenta mais tanta destruição. Não tem sentido, não há razão. Tudo que vocês precisam, a Mãe Terra provém. Já é hora de agirem com cooperação, em harmonia com a Natureza. Não sejam cúmplice de tanta aniquilação. Cada pedaço de carne que se come, é um pedaço da Mãe Terra que está sendo destruído”.
Essa é a suplica desse xamã, da floresta, e minha.
Por favor, não patrocinem genocídios de aldeias indígenas, de animais, da floresta. Nós não precisamos de carne para viver, ou para sermos saudáveis.
Deixar de comer carne vai muito além de apenas deixar de se alimentar de animais. É deixar de ser extremamente egoísta, preocupada apenas com os próprios prazeres e se tornar uma pessoa altruísta, que se importa com o sofrimento alheio. É honrar nossos ancestrais indígenas, é demonstrar amor pelos animais e pela natureza.
É fazer nossa parte para que um mundo sem violência se torne cada vez mais palpável.
Por um mundo onde há respeito pelo próximo, pelas florestas, por um mundo de paz.
É deixar de ser cúmplice dessa enorme devastação que estamos vendo acontecer, de causar extrema dor a seres inocentes como os animais, e a nossa Mãe Gaia.
E aos consagradores das medicinas da floresta é honrar esse chá sagrado que tanto nos ajuda, e àqueles que tornaram possível a consagração desse sagrado ritual.
Ainda hoje, quatro anos depois, lembrar desse contato me traz grande dor ao coração e lágrimas aos meus olhos, foi uma experiência na qual eu não apenas vi, mas senti em cada célula do meu corpo, a dor, a tristeza e todo o desespero que eles sentiram. E sinto também a dor, de não ter conseguido transmitir a mensagem a quantidade de pessoas que eu senti que o xamã gostaria que eu tivesse transmitido.
